quarta-feira, 20 de julho de 2011

Federalismo

Aí para trás, disse umas coisas crípticas sobre as declarações de Paulo Rangel. Mas tinha lido a resenha jornalística, não o texto das declarações, no qual agora tropecei. Li e pasmei. Rangel é federalista - não o esconde nem há razões para o esconder. Orgulha-se do facto, o que igualmente sucede, por razões misteriosas, com outras estrelas, novas e velhas (Mário Soares e Freitas do Amaral, p. ex.) do firmamento político, como se ser federalista implicasse alguma forma de superioridade ou particular lucidez.

Diz que "Só uma entidade foi capaz, até agora, de preservar a paz: a União Europeia" e ainda que "A Europa voltará aos cenários de guerra que foram a sua tradição. Temos aí tudo a explodir... por exemplo, entre a Hungria e a Eslováquia, Hungria e Roménia, os Balcãs..."

Eu julgava que a evolução da CEE para União Europeia foi feita nas costas dos cidadãos, que não foram consultados na maioria dos países; que a Europa do Euro e a União Europeia não são a mesma coisa; que os referendos que até agora houve sobre assuntos europeus não reflectiram o ponto de vista dos ideólogos federalistas; que a moderação por superstruturas europeias dos conflitos intra-europeus não implica uma moeda única, nem uma fiscalidade única, nem um Banco Central, nem a degradação das nacionalidades para meras velharias simbólicas, enterradas por engenheiros de pátrias; que o erro da criação do Euro, se o foi, não pode ser corrigido com evoluções muito para lá de mero rearranjo financeiro, ao arrepio de consultas democráticas às populações; e que, sendo certo que o flagelo das guerras não está, nem estará até onde a vista e a imaginação alcançam, erradicado, construções que ofendem o sentimento de pertença dos cidadãos (aos seus países, não a gordos órgãos distantes e crescentemente isentos de escrutínio) não são o terreno da concórdia.

E digo isto mesmo descontando o exagero alarmista, que tomo por retórico, do reacender de velhas querelas se, para salvar o Euro, os cidadãos dos países ricos não estiverem dispostos a embarcar num esquema continental para transferir recursos de quem tem para quem não tem. Os cidadãos ricos podem ser obrigados via redistribuição a socorrer os seus concidadãos; os países não. Não durante muito tempo - como se verá.

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