segunda-feira, 25 de julho de 2011

Um apagão energético colossal?

A intenção do governo vender a posição na EDP em bloco - de preferência a alemães e franceses - com o intuito de maximizar o encaixe financeiro é mais um sinal revelador do espírito «eurocrata financista» de Vítor Gaspar na (in)defesa dos interesses nacionais, com o aval de Passos Coelho. Aliás, um modo estar já manifestado na proposta de redução das taxas de juro do empréstimo a Portugal, que Vítor Gaspar considerou «prematura».

A preferência por alemães e franceses revela uma cegueira estratégica preocupante neste executivo, toldada pela perspectiva «eurocrata merkelista». Com efeito, a venda da EDP a alemães e franceses não irá trazer os aparentes benefícios de uma atitude mais beneplácita de Merkel e de Sarkozy face à situação portuguesa.

Pelo contrário, só irá subjugar mais Portugal e arrastar o país para uma das frentes do take-over energético que a Rússia está a operar com a aquisição das centrais de gás alemãs e holandesas, apertando o cerco ao Leste europeu. A entrada de uma empresa alemã na EDP significaria a prazo a extensão da influência russa na Península Ibérica, perdendo Portugal a sua vantagem geoestratégica de alternativa de abastecimento de gás natural pela via liquefeita.

Em contraste, para Portugal conseguir ganhar margem de manobra para operar em geometria variável no actual redesenho de equilíbrios de poder na economia global, a preferência pela venda da EDP deveria estar centrada nas potências emergentes, como o Brasil e a China.

O Brasil, pela óbvia escala do mercado - é maior fonte de lucro da EDP - e pela janela de oportunidade de criação de um mercado energético integrado no espaço lusófono, com implicações positivas no aumento das exportações portuguesas. A China, por ser o líder dos BRIC e que, com a venda da EDP à China Power, poder abrir uma oportunidade para melhorar o acesso dos produtos portugueses ao mercado do Império do Meio.

Portanto, a venda de activos como a EDP não deve ter como objectivo único a maximização financeira, mas também a criação de potenciais vantagens geoeconómicas para Portugal nas grandes economias emergentes.

Mas se Passos Coelho e Vítor Gaspar insistirem na atitude «socrática» de não escutar os gestores das empresas em causa, vão cometer um erro estratégico colossal. A Alemanha e a França desmantelarão a massa crítica fundamental da 4ª maior empresa mundial de electricidade renovável para seu próprio benefício.

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