segunda-feira, 25 de julho de 2011

O direito à felicidade

O novo líder do PS acusou hoje o Governo de querer “tratar os jovens como jovens a dias, com menos direitos e nenhumas garantias”, referindo-se à intenção do executivo de reduzir as indemnizações por cessação do contrato de trabalho” António Seguro, in Público.

Esta frase inquietou-me. Este tema, dos direitos dos nossos jovens, tem sido para mim matéria de perturbação e de reflexão.

Nem de propósito, chegou-me recentemente pelas mãos de uma amiga, um artigo de uma cronista brasileira – Eliane Brum – que diz isto:

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. (…) E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.”

E continua, num texto cuja leitura integral recomendo: a pais, educadores em geral e políticos.

Porque releva a todos saber que sociedade estamos, mesmo que bem intencionadamente, a construir. Que valores implícitos passamos nas conversas que temos em todos os momentos educativos, dos quais os discursos públicos não são excepção?

Concerteza que desejamos para os nossos filhos (para os filhos da nossa nação) o melhor. Mas sendo este nosso “desejo” garantido, o “melhor” não o pode ser. Nalguma medida depende de coisas que não controlamos como a sorte ou a circunstância e, noutra medida, do esforço e das escolhas de cada um.

Retomo este belíssimo texto para concluir:

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência. Crescer é compreender que o fato de a vida ser falha não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba”.

4 comentários:

  1. «We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness»
    Declaração da independência dos EUA.

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  2. Precisely: "the pursuit of happiness", não a sua garantia.

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  3. Vejo nas palavras de António José Seguro a defesa da possibilidade de se lutar pela felicidade. Uma espécie de garantia de meios e não de resultados. Foi nesse sentido o meu comentário.

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  4. Seria injusto teimar, nesta fase, sobre a intencionalidade do AJS. Até porque, a sua frase foi (só) mais um pretexto para esta reflexão que acho tão importante quanto abrangente, muito para além do espectro político.
    Acho que nos deveríamos perguntar se educamos para direitos que não podemos garantir (salvo as devidas excepções), ou para valores que estruturem e serenem as nossas escolhas.Enfim, divago...

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