As nossas sociedades são governadas por economistas, mesmo quando não são, porque o crescimento económico é percebido como o terreno em que um número crescente de pessoas tem acesso a uma quantidade crescente de bem estar, e os economistas têm - dizem eles e dizem com tanta convicção que as pessoas acreditam - a chave desse crescimento. Eu, como os outros, dou para este peditório: acho que a invenção da pílula fez mais pela libertação da Mulher que todas as sufragettes, e entendo que há mais humanidade numa moderna cadeira de dentista que em todos os sistemas filosóficos. E estas duas invenções que escolhi ao acaso são o fruto de uma evolução científica e tecnológica que anda de mãos dadas com o progresso material e a concorrência. Seja então assim. Sucede porém que os economistas têm um discurso basicamente desonesto, por, sendo como nós todos depositários de crenças, princípios, inclinações, simpatias e antipatias, convicções e o mais que nos faz pessoas, apresentam as suas conclusões embrulhadas numa salgalhada científica, com um patois próprio - o economês -, gráficos, cálculos, demonstrações e toda a parafernália das ciências exactas, não faltando sequer as cobaias que somos nós e os laboratórios que são os Estados modernos. E fazem isto não com os cuidados que deve ter quem não sabe verdadeiramente onde está a pôr os pés mas com a tranquila suficiência de quem está a encher pipetas e misturar reagentes.
Mas este palavreado, afinal, vem a propósito de quê? Ora, vem a propósito disto: e cá está como um discurso de esquerda para contrariar uma medida de direita (enfim, o Governo será de direita, a medida é duvidoso que o seja) aparece na consabida roupagem científica - que não entendi. Mas eu não sou economista.
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