sábado, 9 de julho de 2011

A Torre de Babel

A quase unanimidade do País oficial, da imprensa, dos cafés e da Oposição, sobre o odioso da classificação como lixo da nossa dívida, não encontra eco na blogosfera de referência. Vejam-se, entre outros, Gabriel Silva, Tiago Moreira Ramalho, Carlos do Carmo Carapinha, Luís Meneses Leitão e Carlos Pereira da Cruz , já para não ir para os lados do Insurgente e do Portugal Contemporâneo - o embaraço é da escolha.

Um paisano como eu fica perturbado:

As agências de rating vivem de ajudar os seus clientes a não cometer erros, como será o caso ao investirem em dívida que provàvelmente não vai ser paga, ou não vai ser paga nos prazos de vencimento.

As agências de rating vivem de ajudar os seus clientes a fazerem negócios especulativos, como será o caso ao investirem em dívida que provàvelmente será paga, mas cujo pagamento depende de factores externos à performance dos devedores.

As empresas de rating influenciam positivamente a performance dos devedores, ao atribuirem-lhes ratings positivos, quer os mereçam quer não, ou negativamente, ao atribuirem-lhes ratings negativos, mesmo que se justifiquem.

Gostava de acreditar que as pessoas que produzem as análises das agências de rating são imunes aos interesses de quem lhes paga e, mais ainda, aos interesses de quem não lhes paga mas tem muito a ganhar com os ratings que dão.

Gostava. Mas a gente com a idade vai ficando céptico. Por isso, não dou para peditório nenhum. Apenas espero - sentado. E com a secreta esperança de que esta gente, que com cambiantes e diferenças é genericamente a minha gente, não tenha razão.

2 comentários:

  1. Meu caro JMG,
    O problema do segmento blogosférico que indicaste (não seria difícil indicar outro com uma posição oposta) é uma fé inabalável no dogma neoliberal de que os agentes no mercado comportam-se sempre de um modo racional, incluindo (já nem todos, é certo...) a ética no comportamento racional. Eles não acreditam, portanto, que as agências de rating podem ter uma "secret agenda" de criação ou acentuação de tendências.
    É a inocência dos neoliberais que, tal como Chamberlain, acreditam ainda na ausência de maldade...

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  2. Nuno, estamos a anos-luz. Porque, para despesas públicas que rondam a metade do produto, eu acho surreal falar de liberalismo, quanto mais de neo - e isto vale não apenas para Portugal como para a generalidade do Ocidente. Dito isto, não temos que nos passear por aí com um par de asas nas costas - suspeito que alguns dos meus correlegionários têm presente a doutrina e esquecem as pessoas - que, de direita ou esquerda, são todas muito parecidas nas suas pulsões e interesses. Abraço.

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