A narrativa anti-partidária está fortemente enraizada em Portugal. Cresceu bastante no fim da Primeira República, cimentou-se com o Estado Novo e renasce agora com políticos que dizem que não são políticos mas técnicos (como Cavaco Silva, ou Ferreira Leite), como se as suas opções técnicas não fossem ideologicamente ditadas.
Mas não só, o “anti-partidarismo” faz-se também com políticos que, chegados ao poder, procuram incensar-se de insuspeição ao recrutar ministros e secretários de estado sem filiação partidária formal e com outros que, paramentados de vestes de “comentadores”, censuram a nomeação, por exemplo, de Miguel Relvas e de Marco António Costa.
Todos aqueles que, durante anos a fio, retiram tempo a si próprios e às suas famílias para debater ideias e buscar soluções, que fazem campanhas eleitorais sujeitando-se aos insultos de quem passa, mereciam mais respeito.
Não está em causa o cuidado que se deve ter para que o Estado não seja tomado de assalto pelos aparelhos partidários. Mas deve também dizer-se que o Estado não deve ser tomado de assalto pelos outros aparelhos, sejam religiosos ou laicos, sejam corporativos ou rentistas, sejam culturais ou bancários.
Por isso, ao fazer-se as contas a quantos ministros e secretários de estado são do PSD ou do CDS, também se deveriam fazer as contas, por exemplo, de quantos estão ligados ao sector financeiro ou ao sector universitário.
Porque as tentações… essas despertam em todos, e não só nos políticos.
Sem comentários:
Enviar um comentário