domingo, 7 de agosto de 2011

O limpador de janelas

Durante o segundo comício em plena época de férias, em Armação de Pêra, integrado na iniciativa "Portugal não tem solução?", Francisco Louçã referiu que "o Governo está a estudar a ideia para os desempregados terem de vir a trabalhar gratuitamente no sector privado, ou seja, poderem vir a limpar o chão numa empresa".

O Governo estará a estudar, a medida será tomada ou não e, se o for, será assim ou de outra maneira.

Entretanto, Louçã está equivocado: um trabalhador que recebe subsídio de desemprego não está a beneficiar do rendimento dos descontos sobre o salário que efectuou enquanto activo: está a ser pago por impostos que outros trabalhadores suportam - e logo não está a trabalhar, se for obrigado a trabalhar, gratuitamente. Isto porque os descontos, que teoricamente se destinam a assegurar a reforma, a assistência na doença e o subsídio de desemprego - não chegam. E não chegam por causa da evolução demográfica, do crescimento anémico da economia e da componente solidária redistributiva do sistema, que levou a que, por exemplo, fossem concedidos direitos a quem não tinha uma história contributiva.

Podemos pensar o que quisermos sobre o que seja o melhor sistema. Mas não podemos construir raciocínios sobre falsificações da realidade - ela, a realidade, tem uma teimosa mania de ter razão.

Finalmente, Louçã encara com horror a perspectiva de alguém "limpar o chão numa empresa". Não se amofine, excelente Louçã: se o caso fosse consigo estou certo que, dada a sua altura, o poriam antes a limpar as janelas.

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